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Cuidado para não se perder

"Ardendo de curiosidade, ela correu pelo campo atrás dele, a tempo de vê-lo saltar para dentro de uma grande toca de coelho embaixo da cerca. No mesmo instante, Alice entrou atrás dele, sem pensar como faria para sair dali"



Assim falou Alice

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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quase

Eu quase consegui abraçar alguém semana passada. Por um milésimo de segundo eu fechei os olhos e senti meu peito vazio de você. Foi realmente quase. Acho que estou andando pra frente.
Ontem ri tanto lá no Brejo, tanto que quase fui feliz de novo.
Hoje uma pessoa disse que está apaixonada por mim. Quem diria? Alguém gosta de mim. E o mais louco de tudo nem é isso. O mais louco de tudo é que eu também acho que gosto dela. Quase consigo me animar com essa história, mas é só quase...
Eu achei que quando passasse o tempo, eu achei que quando eu finalmente te visse tão livre, tão forte e tão indiferente, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu achei que passaria.
Não passa nunca, mas quase passa todos os dias.
Chorar deixou de ser uma necessidade e virou apenas uma iminência. Sofrer deixou de ser algo maior do que eu e passou a ser um pontinho ali, no mesmo lugar, incomodando a cada segundo, me lembrando o tempo todo que aquele pontinho é um resto, um quase não pontinho.
Você, que já foi tudo e mais um pouco, é agora um quase. Um quase que não me deixa ser inteira em nada,
plena em nada, tranqüila em nada, feliz em nada.
Eu quase consigo te tratar como nada. Mas aí quase desisto de tudo, quase ignoro tudo, quase consigo, sem nenhuma ansiedade, terminar o dia tendo a certeza de que é só mais um dia com um restinho de quase e que um restinho de quase, uma hora, se Deus quiser, vira nada. Mas não vira nada nunca.
Eu quase consegui te amar exatamente como você era, quase. E é justamente por eu nunca ter sido inteira pra você que meu fim de amor também não consegue ser inteiro.
Eu quase não te amo mais, eu quase não te odeio, eu quase não odeio aquela foto com aquelas garotas, eu quase não morro com a sua presença, eu quase não escrevo esse texto.
O problema é que todo o resto de mim que sobra, tirando o que quase sou, não sei quem é.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Deixa-a ir!

Ela era um misto de força e delicadeza, misturadas à raiva e a um pulsar que nada alcança. Corria pelos fogos da vida salivando e à espreita. Cansava fácil e temia a tudo. Mas era insistente: não desistia. Parava por uns tempos, mas voltava, disposta a percorrer todas as distâncias do universo.


Eu a observava de longe, encantado com todos os traços. Ensaiava tocá-la, ensaiava tê-la, guardá-la, menina em meu regaço. Em uma caixinha só minha, dentro do criado-mudo dos meus devaneios.

Mas, como caça, todas as vezes que estendia meus dedos para agarrá-la, fugia esguia e hábil, por entre todas as minhas soluções. Eu não tinha essa moça em minhas equações. Pois ela, não tinha a ninguém.

Num certo momento, devido à minha insistência, observei-a acostumando-se à minha presença, não me planejando mais sua inimiga. Trouxe-lhe agrados de todos os tipos, os quais ela aceitava, ainda pensativa.

Tornou-se, enfim, confiada, o que me abriu caminho para que me preparasse a enjaulá-la. Porém, enquanto a cercava, com incontáveis redes e armas, coloquei-me triste, vendo-a tornar-se pequeno bicho acuado num canto de mata.

As mãos, de repente, amarradas. Nenhum sorriso nos lábios, olhos baixos. Ela não sabia como reagir a uma força tão imprudente, tão mais forte que ela, tão irresponsável, tão dominadora, que se impunha, desconsiderando os seus desejos. Ela se sentiu pequena e traída. Desejava sair e não podia! Não queria ser alvo daquela caçada! E não sabia como escapar dela...

Seus olhos se fechavam em desespero.

Num lampejo, entendi o que amava naquele pequeno animalzinho: era um ímpeto de ser livre e contemplado e contemplar. Era uma rebeldia de rasgar com os dentes todos os papéis imaginários que trazem as leis do mundo. Era uma sede que o próprio mar não poderia conter.

Era... eu.

Um eu que fui e que não fui, um eu do porvir. Um eu que sou também, que fala baixinho ao pé do ouvido, mas ao qual finjo não acreditar...

Num sopro, esse eu me disse: “deixa-a ir! Existem outros modos de viver o mundo, sem que precise colocá-lo nessa sua caixa”!

No olhar de dor, compreendi que guardá-la na minha caixa não traria de volta a oportunidade de mudar todas as minhas escolhas. Colocá-la na caixa não me tornaria o que desejo ser. Colocá-la na caixa não faria da caixa um mundo paralelo para o qual poderia escapar de vez em quando. Colocá-la na caixa só faria matar tudo que de mágico e grandioso ali reinou um dia. Esse bicho acuado, já não era mais nada daquilo que desejei.

“Deixa-a ir... está sofrendo...”