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Cuidado para não se perder

"Ardendo de curiosidade, ela correu pelo campo atrás dele, a tempo de vê-lo saltar para dentro de uma grande toca de coelho embaixo da cerca. No mesmo instante, Alice entrou atrás dele, sem pensar como faria para sair dali"



Assim falou Alice

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sábado, 19 de junho de 2010

Beijos comprados

As portas se abriram.Entraram juntas no bar, que era só fumaça pra todo canto.
Enquanto caminhava, ela lembrava só o que a vida havia feito da vida delas. Em português, era toda poesia, poesia nua, dolorida, umas coisas florzinhas que


rabiscava em guardanapos de boteco e depois esquecia em gavetas. “Queridos, queridos”, pensava. Estavam ali todos os seus adorados desconhecidos que ela


chavama de amigos nos momentos de solidão, mas o sabor verdadeiro da amizade ela jamais experimentou!
Talvez por medo, ou porque era boa demais..


Enquanto caminhava, começava a sentir que a música ia adentrando seu corpo, mesmo sendo daquelas melodias não-melodias, das boates em geral, que batem,


batem, batem, até que o corpo se entrega, abraça a batida e vira a batida, bate junto, sincronizado com a não-melodia.


Todos sorriam,as mulheres bem vestidas se vendiam. Todos bebiam de umas taças de formatos estranhos, apanhadas de um ou outro garçom que passava: um


zigue-zague de haste, parafusos de hastes de taças, líquidos de todas as cores, azul-anis, dourado-tequila, vermelho-tomate e vodka, rum e tantas outras


derramadas nas bocas sorridentes, levando para longe o brilho sóbrio dos lábios, olhos de ressaca, olhos de alegria de bebedeira, olhos que esquecem seus


superegos e se atiram para os lados, e dançam, junto dos corpos, mas, de todos os corpos.


Como girava, também ela, no entreabrir daquele momento, percebeu se aproximar o medo.
E era o final de tudo, a madrasta da Branca de Neve de cabelos longos e um rosto sem expressão alguma que causava calafrios a quem a olhasse.
Sem se mexer, sentiu a respiração daquela bruxa na sua nuca e pensou que esse talvez seria o último dia de sua vida.
E pela primeira vez em sua vida não foi covarde continuou firme em sua posição e o mal foi se dissipando aos poucos, como fumaça.


Em cada um de seus lados, uma mulher, duas, com cabelos de fogo, curtos, como labareda, sacudiam, sensualíssimas, duas serpentes de cabeça em chamas,


fitando-a, chamando-a sem palavras, sem gestos, mas, chamando-a, que subisse a rampa, para aquele outro patamar (ela quase ouvia suas vozes).


Parou e fitou. Seus desconhecidos sentiam, sabiam: cercaram-na de repente, como que pedissem, todos, que não andasse até lá. Os sorrisos estavam mais sérios,


talvez cristalizados, apreensivos, como quem sorria e perdeu a deixa, desapontado da hora errada de sorrir, pensavam ser uma coisa e eram outra, que ela


esquecia, hipnotizada pelas três figuras do alto daquela rampa. Três estrelas a que não poderia resistir.


Caminhou cinco passos. E não pensava frases, mas imagens e delícias e sensações, daquelas que não se confessa, ouvindo, ao fundo, “não”, “espere”, “aonde


vai?”, “por que?”... mas, tão baixinho, que já não fazia sentido, nada fazia sentido. Mesmo assim ela chamou o garçom e perguntou quanto a rainha de cabelos


negros cobrava por um beijo.
$50,00, respondeu ele.


“Ela tem os olhos mais bonito que o mais bonito" , pensou."Pago!"
A não-melodia se tornou música. Música, e aquela mulher que lhe oferecia o infinito de um beijo de 60 segundos a 50,00 e que ela aceitava, embalando-se na


batida, sugou o vento,o vazio, o nada através do beijo comprado.
E naqueles míseros segundos passou um flash-back de sua vida, dos corações partidos, das oportunidades perdidas, percebeu que era todo o mundo e não era


nada.


Uma vontade enorme de deitar aconchegada em alguém, que lhe fazia cafuné e que falava "vai passar neném..."


(Vazio)

E os olhos bonitos engoliram seu desejo e seu dinheiro. E tudo mais que era. Que viria a ser. Engoliu sua essência. Num beijo. Num instante.


Ela não queria ser mais assim...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

por favor alguém me toque!

Será que tem como eu sair correndo daqui agora?!


sair daqui e assistir, ler, ouvir ou sentir algo que realmente me toque?!

algo que me dê um soco e me faça chorar uns dois litros

ou que me impulsione a uma ação como pegar uma caixa velha de porta retratos

pedir uma cadeira para a vizinha, espalhar pelas paredes da casa fotos que mostrem alegria!

entende isso? entende essa urgência?!



Quero sair pela cidade pintando postes...

entregando caixas para que todos tenham onde juntar suas miudezas

escrever uma carta para todos os moradores da rua tal.

sentar na praça e ouvir o que aquele velhinho tem a dizer mas falta tempo

quero que todos saiam do seu respectivo buraco e venham ver o bonito!

exergar o simples!

e que existam os outros para mostrar o feio, o sujo... que também existe!

e que eu consiga tirar da fragilidade de cada um... essa grosseria toda, esse escudo cinza claro...

quero mudar a cor da cidade e dos olhos teus.



(espaço dentro do meu suspiro)



entro um pouco mais fundo do que uma cor ou um segredo

andei pensando sobre arte! (e porque não?!)

penso eu que: essa arte egoísta deveria dar espaço para o que realmente precisa ser mudado ou simplesmente tocado... e não vendido ou comprado.

perdemos o valor do que realmente importa, para pagarmos a conta do supermecado ou posar para as fotos do Zine Cultural

(necessário também?!)

*e por favor não confundam com "também" com "somente"

e para que eu durma sem tudo isso engasgado,

mostrando que não,

que eu não estou nem ligando pra tudo isso...

e sim com um certo asco, uma preguiça...



começo um manifesto sozinha:
por favor alguém me toque!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Pra você

Você não me inspira poesia sempre.
Na verdade, uma vez, quando você ainda não era de verdade, só minha fantasia.
Uma mexida sua e escrevo sobre o que estou sentindo, talvez não sobre você.
Tudo muito analisado, muito ponderado... e calado, muito do que sinto.
E se ao mesmo tempo suas promessas me prometem segurança por sempre me bombardear de verdades, fica um vazio aqui dentro de desconfiar de tanta convicção e racionalidade.
Essas coisas são, também, disfarces da alma.
Acostumada que estou a enfiar os pés pelas mãos, me contenho extremado, me podo o que nasce bonito, me deixo encostada, livro na prateleira.


Eu te escrevo e apago,
sem parar.


Porque tem em mim muito romance de contos de fadas, muito de um ideal que dói de pensar e arrepia meus pelos da nuca e me faz concluir que esta intranqüilidade é tudo o que desejo: é, afinal, uma finalidade provisória.
Não te descrevo mais, porque está difícil decifrar o que vai nessa armadilha de pensamentos que, talvez, não me digam nada do que é...
E eu leio mais fácil os olhares do que as palavras. O movimento da boca que fala, não tanto o que diz.
Onde coloca suas mãos: onde peço?


Mas...
onde desejas?


Eu sei, eu sei que algumas coisas não são permitidas.
Eu estou aqui, respeitando o seu mistério e me corroendo a vontade de te engolir por inteiro, te mastigar devagarzinho cada pedaço.
O quê, de tanta informação, faz bater seu peito forte e quente, parece tão escondido... e eu, nessa ânsia de fazer parte disso.
Também não te conto não...
De como é perder todas as referências,
De não ter certeza de nada, enlouquecer, do jeito mais puro.


E, na insanidade, aí sim, perder as jaulas de vez.
Minha vontade é te escancarar os desejos...


Perder as jaulas de vez!



sexta-feira, 11 de junho de 2010

Amor e amores!

Amores verdadeiros são aqueles que sobrevivem ao fogo da distância, ao poder do abstrato.
Amores que se resumem, simplesmente, no ato de amar.
Amar, nem que seja a mais simples das lembranças, memórias que permaneceram e não se deixaram apagar.
Amar pelo beijo dado e pelo não dado. Pelo corpo distante que permanece perto, aquecido por admoestações de um dia.
Amar as carícias travadas em guerras de querer, as mãos que afagaram e marcaram; que como poder divino, desbastaram ressaltos de um coração, já por muitos, machucado.
Amar as palavras ditas e repetidas em momentos inoportunos, até mesmo as que não fizeram sentido. Pelo SIM dito reiteradas vezes.
Amantes pela dor da partida, pela ferida aberta e sentida no dia do Adeus.
Pela saudade insistente, compadecida e amada; aquentada pelo desejo, pelo anseio de apetecer um instante apenas.
Amantes pelas trocas de olhares, por pensamentos proibidos, pelos calafrios despropositados.
Amantes pelos encontros em sonhos inopinados; pelas viagens longínquas antes de dormir.
Amantes pelo sentir de algo que não ocorreu. Pela recordação do que não foi vivido.
Amantes pela confiança depositada em algo não visível. Pela coragem de apostar no amanhã, de ter certeza que um dia valerá a pena. Que os dias distantes, enfim, serão próximos. Pela idealização diária do reencontro.
Se amar, realmente, vale a pena, esse é o valer. É o querer sem motivos. É o amor sem porquês.
Se tem algo que ainda, aqui, sobrevive, é o lembrar do outro que por si só consola.
Se aos poetas amar é ter perto, aos simples mortais, que amam e não apenas idealizam, amar é querer estar perto e nem sempre conseguir.
É estar separado por pontes ou por incomensuráveis águas de um Oceano e sentir o amor arder no peito, como se perto estivesse.
Amar pela ausência, pela falta cravada em si.
Amemos, o ser próximo, o ser distante; amemos pelo simples gesto de amar.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O outro


Você não sabe quantas dúvidas ocupam meu tempo, querida Alice!
Já fiz coisas que não quis por não saber dizer não. Já fiz coisas que quis e das quais me arrependo. Já deixei de fazer o que devia apenas para agradar.
Alice, estou aprendendo aos trancos e barrancos que o tempo nos empresta sabedoria se assim o quisermos.
Não que deixarei de errar.
Mas meu erro será bem-vindo porque fará parte de uma compreensão maior.
E isso é essência!
As aparências fragilizam com o tempo. A essência, não.
Ninguém resiste ao disfarce por muito tempo.
Parece mais fácil vencer o medo de não dar certo apontando os erros dos outros do que vasculhando internamente a própria essência.
É sempre o outro. O seu aplauso ou o seu desprezo. O outro é sempre o prato principal!
O medo do fracasso começa, Alice, jogando fora a beleza do erro. É do grande mago, Oswald de Andrade o pedido: Quero a contribuição milionária de todos os erros. Somos humanas, né Alice?!É isso que somos , e é isso que nos faz docemente carente uns dos outros.
Nada de cenários falsos, perfeitos.Vida, minha querida, é de vida que precisamos. De mudanças de temperatura, de humor, de cadafalsos, d e cenários multicores com algum passarinho que nos empreste um pouco mais de poesia na travessia.
Um passarinho que seja, ou então cachorro!