
Brincava de esconder quando era pequena. Se escondeu tanto, mas tantas vezes que até hoje ainda não se encontra.
Brincava de roda. Muitas voltas com os braços abertos, até ficar tonta e cair ao chão. De tanto cair, esqueceu um pouco de levantar. Tonta... continua um pouco até hoje.
Subia o morro de lajota umas 10 vezes e descia, não sabia se pelo prazer de descer ou de subir. Quando exausta sentava-se no chão, e ali ficava horas.
Tinha um apelido que detestava "perebenta". Uma herpes que veio do berço e que teimava desabrochar mais ou menos uma vez por mês. Olhava-se no espelho: "boca de sapo".
Ía pra escola de botas sete léguas vermelhas quando chovia, e uma capa de chuva também vermelha. Todos viam a menina andando pela rua. A menina da capa vermelha ridícula. Ela se divertia. Mas... tinha medo do lobo-mau assim mesmo.
Às vezes a menina era interceptada no meio do caminho por outras crianças que batiam nela (lobos-maus). Até hoje ela não entende o porquê. Talvez por inveja da sua capa ou porque ela era mesmo "tonta".
Escrevia bilhetes apaixonados para um menino cabelo cor de milho, cor de ouro que reluzia em seus olhos e lhe fazia perder o fôlego, tremer, chorar. Ela tinha seis anos e uma capa vermelha que encobria seu rosto corado de vergonha do que sentia. Primeiro amor não correspondido.
Subia o morro até encontrar a pedra secreta, onde ficava horas em silêncio. Um silêncio quente, que lhe acariciava o corpo e a mente. Queria alcançar a lua. Mas... parece que até hoje nunca chegou lá.
Gostava de juntar potes vazios de todos os tipos para depois brincar de imitar a mãe "aquela que cozinhava". Até hoje procura potes e geralmente os encontra: vazios. Gostou tanto de brincar de cozinhar que casou. Aí cansou dessa brincadeira e jogou os potes todos pela janela. Jogou o marido junto.
A menina cresceu. Mas continua por aí com suas botas vermelhas e sua capa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário