As portas se abriram.Entraram juntas no bar, que era só fumaça pra todo canto.
Enquanto caminhava, ela lembrava só o que a vida havia feito da vida delas. Em português, era toda poesia, poesia nua, dolorida, umas coisas florzinhas que
rabiscava em guardanapos de boteco e depois esquecia em gavetas. “Queridos, queridos”, pensava. Estavam ali todos os seus adorados desconhecidos que ela
chavama de amigos nos momentos de solidão, mas o sabor verdadeiro da amizade ela jamais experimentou!
Talvez por medo, ou porque era boa demais..
Enquanto caminhava, começava a sentir que a música ia adentrando seu corpo, mesmo sendo daquelas melodias não-melodias, das boates em geral, que batem,
batem, batem, até que o corpo se entrega, abraça a batida e vira a batida, bate junto, sincronizado com a não-melodia.
Todos sorriam,as mulheres bem vestidas se vendiam. Todos bebiam de umas taças de formatos estranhos, apanhadas de um ou outro garçom que passava: um
zigue-zague de haste, parafusos de hastes de taças, líquidos de todas as cores, azul-anis, dourado-tequila, vermelho-tomate e vodka, rum e tantas outras
derramadas nas bocas sorridentes, levando para longe o brilho sóbrio dos lábios, olhos de ressaca, olhos de alegria de bebedeira, olhos que esquecem seus
superegos e se atiram para os lados, e dançam, junto dos corpos, mas, de todos os corpos.
Como girava, também ela, no entreabrir daquele momento, percebeu se aproximar o medo.
E era o final de tudo, a madrasta da Branca de Neve de cabelos longos e um rosto sem expressão alguma que causava calafrios a quem a olhasse.
Sem se mexer, sentiu a respiração daquela bruxa na sua nuca e pensou que esse talvez seria o último dia de sua vida.
E pela primeira vez em sua vida não foi covarde continuou firme em sua posição e o mal foi se dissipando aos poucos, como fumaça.
Em cada um de seus lados, uma mulher, duas, com cabelos de fogo, curtos, como labareda, sacudiam, sensualíssimas, duas serpentes de cabeça em chamas,
fitando-a, chamando-a sem palavras, sem gestos, mas, chamando-a, que subisse a rampa, para aquele outro patamar (ela quase ouvia suas vozes).
Parou e fitou. Seus desconhecidos sentiam, sabiam: cercaram-na de repente, como que pedissem, todos, que não andasse até lá. Os sorrisos estavam mais sérios,
talvez cristalizados, apreensivos, como quem sorria e perdeu a deixa, desapontado da hora errada de sorrir, pensavam ser uma coisa e eram outra, que ela
esquecia, hipnotizada pelas três figuras do alto daquela rampa. Três estrelas a que não poderia resistir.
Caminhou cinco passos. E não pensava frases, mas imagens e delícias e sensações, daquelas que não se confessa, ouvindo, ao fundo, “não”, “espere”, “aonde
vai?”, “por que?”... mas, tão baixinho, que já não fazia sentido, nada fazia sentido. Mesmo assim ela chamou o garçom e perguntou quanto a rainha de cabelos
negros cobrava por um beijo.
$50,00, respondeu ele.
“Ela tem os olhos mais bonito que o mais bonito" , pensou."Pago!"
A não-melodia se tornou música. Música, e aquela mulher que lhe oferecia o infinito de um beijo de 60 segundos a 50,00 e que ela aceitava, embalando-se na
batida, sugou o vento,o vazio, o nada através do beijo comprado.
E naqueles míseros segundos passou um flash-back de sua vida, dos corações partidos, das oportunidades perdidas, percebeu que era todo o mundo e não era
nada.
Uma vontade enorme de deitar aconchegada em alguém, que lhe fazia cafuné e que falava "vai passar neném..."
(Vazio)
E os olhos bonitos engoliram seu desejo e seu dinheiro. E tudo mais que era. Que viria a ser. Engoliu sua essência. Num beijo. Num instante.
Ela não queria ser mais assim...
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Cuidado para não se perder
"Ardendo de curiosidade, ela correu pelo campo atrás dele, a tempo de vê-lo saltar para dentro de uma grande toca de coelho embaixo da cerca. No mesmo instante, Alice entrou atrás dele, sem pensar como faria para sair dali"

vc sabia q o filme da alice é uma constante busca por ela mesma? ...
ResponderExcluirbjzzz
Lindo,Alice!!!
ResponderExcluirAliás,como todo o seu blog...
Queria te perguntar uma coisa: existe outra maneira de eu conhecê-la melhor que não seja o "formspring"? rs
Bjinhos =)
Anota meu msn autrechose_@hotmail.com
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